sábado, 24 de maio de 2008
domingo, 4 de maio de 2008
sábado, 3 de maio de 2008
A (perigosa) revolução dos peixes
Os peixes de aquário não aparentam representar nenhum mal. São silenciosos e sempre ficam batendo cabeça do vidro com aquela bochecha de quem não está entendendo nada. Aliás, "cara de peixe" não é uma expressão das mais positivas. E também tem "olhar de peixe morto", o que não vem ao caso, pois os peixes desta crônica estão todos vivos.
Aí é que mora o perigo. Os peixes não fazem nada, passam o dia todo nadando, o que já é sinal de não fazer nada, pois quem nada faz nada ou não faz nada e acaba passando toda a vida sem fazer coisa alguma. Outro dia, olhando para o meu aquário, percebi o perigo que os peixes representam para a manutenção do equilíbrio social (?) conquistado ao longo de milênios de civilização humana. Decididamente eles são uma ameaça à existência humana.
Mas, se você tem aquário em sua casa, fique tranqüilo. De acordo com meu raciocínio, somente os peixes que ainda não foram comprados (ou seja, os que estão em aquários-vitrinas nas lojas do ramo) é que podem nos colocar em risco. Isso porque eles, quando forem adquiridos e saírem das lojas, poderão disseminar o mal a outros peixes e animais aquáticos. É evidente que você, leitor esperto, já deve ter percebido a incoerência: se seus peixes estão em seu aquário é porque um dia foram comprados então também representam perigo - ou seus peixes surgiram por geração espontânea?
Vou tentar explicar sem complicar:
Primeiramente partiremos do princípio insólito de que os peixes, por terem cérebro, também têm consciência. E essa consciência primitiva dos animaizinhos bonitinhos que adornam os aquários da sociedade burguesa devem ser bem limpas, uma vez que pouco eles devem usar. Não é mesma coisa da nossa que temos tanta coisa importante para guardar, desde fórmulas inúteis até o telefone daquela gatinha de ontem à noite, desde a escalação do time até a letra da música favorita. O peixe é apenas um peixe que nada faz e, por não ter nada de importante para lembrar, deve lembrar de todas as coisas inúteis de seu dia-a-dia.
(Outro princípio insólito que devemos considerar é que os peixes têm um método avançado de comunicação entre si. Mas a esta altura você já deve estar desistindo de ler esta complicação toda!)
Então que todo mundo, principalmente as crianças e os adultos com alma de criança, adoram ficar vendo os aquários-vitrinas das lojas do ramo, e ficam feito tontos admirando os peixinhos bonitinhos que parecem tontos mas não são. Aí começa o perigo. O peixe, por não ter nada de importante para armazenar no cérebro, começa a guardar a fisionomia de cada pessoa. E passa isso de peixe para peixe. Um dia esses animais serão comprados e levados para outros aquários. Lá existirão outros peixes que serão doutrinados pelos que viram as faces humanas mais atemorizadas. E assim, um a um, todos os peixes de aquário do planeta conterão em seu interior uma superespécie desenvolvida de animais de estimação. Agora, perigosíssimos animais de estimação. Estes procriarão e as futuras gerações, evoluídas, já nascerão em seio revolucionário.
Tudo pronto, só faltará o estopim. Será num dia de sol, quando o infeliz dono de algum aquário resolverá ir à praia e esquecerá de pôr comida para seus bichinhos queridos. A gota d’água. Eles pegarão em armas, quebrarão os vidros e, sabe-se lá como, comunicarão a todos os outros aquários do globo para que seus habitantes façam o mesmo.
Então, como uma nova Bastilha, a ordem fisionômica será derrubada e o planeta assistirá, passivo como sempre, a uma nova era. A Era dos Peixes de Aquário!
Ps.: Os humanos terão duas alternativas: ou morrerão afogados numa tentativa suicida de protestar contra o sistema ou serão eternos escravos regidos pelas barbatanas dos terríveis peixes de aquário.
[Edison Veiga Junior]
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