quinta-feira, 5 de julho de 2012
Marinha
Desce a noite enrolada em brumas hibernais...
Trágica solidão, vago instante sombrio,
Em que, tonto de medo o olhar não sabe mais
Onde começa o mar e onde acaba o navio
Nem o arfar de uma vaga : o mar parece um rio
De óleo; oxidado o céu de nuvens colossais,
Um zimbório de chumbo acaçapado e frio,
Escondendo no bojo a alma dos temporais.
Nem das águas no espelho o reflexo de um astro...
Apenas o farol, no vértice do mastro
Rubra pupila, a arder, dentro de uma garoa...
E lá vai o navio , espectral, lento e lento,
Como um negro vampiro, enorme sonolento,
Pairando sobre um caos de tênebras, à toa.
Pethion de Villar
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