quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Meu amor é pescador



 





















CANTO I



Meu amor é pescador

Pesca da alma lamentos

Limos de mágoa e de dor

Em rede de sofrimentos



Tombam-lhe perlas de prantos

Do seu olhar marejado

Ao relembrar desencantos

Dum mar dantes navegado



Virgem da Boa-Viagem

Rasga-lhe a rede-tormentos

Ata-lhe engodo coragem

Na linha dos pensamentos



Dá-lhe rede de estesia

Pra içar do imo o tesouro

Essa arca da alegria

Que jaz em areias d’ouro



Que ele volte a olhar o mar

Sem sal que na f’rida doa

Embevecido o olhar

Numa gaivota que voa



Meu amor é pescador

Que venha a ele a viragem

Que afunde mágoas e dor

Virgem da Boa-Viagem!





CANTO II





Foi ao mar o meu amor

E o temporal o turvou

Onde era um céu viu terror

E temeroso atracou



Onde era azul viu negrume

E o verde se acinzentou

Foi como maré de lume

Que a onda branca queimou



Na sua alucinação

Viu-se amarrado na teia

Das vozes do coração

Duma amorosa sereia



Assustou-se, teve medo

Dessa tágide o prender

E dessa visão de enredo

Fugiu ao amanhecer



Não tinha rede a sereia

Nem anel de cativeiro

Que a navegantes enleia

E aterra um marinheiro



Cala a sereia seu canto

Silenciando a doçura

E de sal se fez o pranto

Petrificada amargura



Quebrou-se o encantamento

Ficou livre o pescador

Desse pesado tormento

Que era só canto d'amor!


 Carmo Vasconcelos

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