É hora da tempestade. O mar espera silencioso. Victor Hugo
domingo, 18 de setembro de 2011
Nas ondas da praia Nas ondas do mar Quero ser feliz Quero me afogar.
Nas ondas da praia Quem vem me beijar? Quero a estrela-d'alva Rainha do mar.
Quero ser feliz Nas ondas do mar Quero esquecer tudo Quero descansar.
(Estrela da Manhã) Manuel Bandeira
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quinta-feira, 14 de abril de 2011
Há um grande vento frio cavalgando as ondas,mas o céu está limpo e o sol muito claro.Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão.
Rubem Braga
Algo de dança nas algas, quase canção dos corais.
Yeda Prates Bernis
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domingo, 27 de fevereiro de 2011
Aquele que duvida é semelhante às ondas do mar, impelidas e agitadas pelo vento.
Textos Bíblicos
Homem livre, tu sempre gostarás do mar. Charles Baudelaire
Eu sou a concha das praias Que anda batida da onda E, de vaga em outra vaga, Não tem aonde se esconda. Mas se um menino, da areia A colher e a for guardar No seio... ali adormece E é ali seu descansar. Pois sou a concha da praia Que anda batida da onda... Sê tu esse seio infante, Aonde a triste se esconda!
Eu sou quem vaga perdido, Sob o sol, com passo incerto, Contando por suas dores As areias do deserto. Mas se um palmar, no horizonte, Se vê, súbito, surgir, Tem ali a tenda e a fonte E é ali o seu dormir. Pois sou quem vaga perdido, Sob o sol, com passo incerto... Sê tu sombra de palmeira, Sê-me tenda no deserto!
Sou o peito sequioso E o viúvo coração, Que em vão chama, em vão procura Outro peito, seu irmão. Mas se avista, um dia, a alma Por quem andou a chamar, Tem ali ninho e ventura E é ali o seu amar. Pois sou quem anda chorando À procura dum irmão... Sê tu a alma que me fale, Inda uma hora ao coração!
No fundo do mar há brancos pavores, Onde as plantas são animais E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge A agitação das ondas. Abrem-se rindo conchas redondas, Baloiça o cavalo-marinho. Um polvo avança No desalinho Dos seus mil braços, Uma flor dança, Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa Tem um monstro em si suspenso.
Massas geométricas Em pautas de música Plástica e silêncio Do espaço criado.
Concha e cavalo-marinho.
O mar vos deu em corola O céu vos imantou Mas a luz refez o equilíbrio.
Concha e cavalo-marinho.
Vênus anadiômena Multípede e alada Os seios azuis Dando leite à tarde Viu-vos Eupalinos No espelho convexo Da gota que o orvalho Escorreu da noite Nos lábios da aurora.
Concha e cavalo-marinho.
Pálpebras cerradas Ao poder violeta Sombras projetadas Em mansuetude Sublime colóquio Da forma com a eternidade.
Concha e cavalo-marinho.
II
Na verde espessura Do fundo do mar Nasce a arquitetura.
Da cal das conchas Do sumo das algas Da vida dos polvos Sobre tentáculos Do amor dos pólipos Que estratifica abóbadas Da ávida mucosa Das rubras anêmonas Que argamassa peixes Da salgada célula De estranha substância Que dá peso ao mar.
Concha e cavalo-marinho.
Concha e cavalo-marinho: Os ágeis sinuosos Que o raio de luz Cortando transforma Em claves de sol E o amor do infinito Retifica em hastes Antenas paralelas Propícias à eterna Incursão da música.
Concha e cavalo-marinho.
III
Azul... Azul...
Azul e Branco Azul e Branco Azul e Branco Azul e Branco Azul e Branco Azul e Branco Azul e Branco Azul e Branco Azul e Branco Azul e Branco Azul e Branco Azul e Branco Azul e Branco Azul e Branco
O céu a valva azul de uma concha semelha De que outra valva é o mar ouriçado de escamas. No ponto de junção, o sol - molusco em chamas - Do bisso espalha no ar a incendida centelha.
Listões de intenso anil, raias de cor vermelha, Grandes manchas de opala, arabescos e lhamas, Da luz todos os tons, da cor todas as gamas Vibram na valva azul que a valva verde espelha.
Mas todo este fulgor esmaece e se apaga. Tímido, o olhar do sol bóia de vaga em vaga, Porque uma sombra investe a sua concha enorme.
É a noite: como um polvo, insidiosa, se eleva. Desenrola os seus mil tentáculos de treva: E o sol, vendo-a crescer, fecha as valvas e dorme.
O cavalo-marinho possui uma cabeça alongada, muito parecida com a cabeça dos cavalos, inclusive a crina. Sua semelhança com o cavalo deu origem ao nome. O corpo desse pequeno e delicado peixe é coberto por placas em forma de anel. Possuem ainda a barbatana dorsal redonda e minúsculas nadadeiras peitoral e anal. Esse peixe pode medir entre 15 cm e 18 cm. Assim como os camaleões, os cavalos-marinhos mudam de cor e movimentam seus olhos saltados em diferentes direções, independentes um do outro. O cavalo-marinho é o único peixe que possui a cabeça perpendicular ao corpo
Para nadar, o cavalo-marinho vibra as barbatanas dorsais com velocidade. Nada na posição vertical, e possui uma cauda preênsil com a qual se agarra em plantas marinhas no momento em que se alimentam.
Em todas as fases de sua vida, possui hábitos alimentares carnívoros, alimentando-se de pequenos crustáceos, moluscos e vermes, que são sugados por seu focinho tubular. Só comem alimentos que se movimentam. A reprodução desse peixe é fora do comum, pois é o macho da espécie que gera os filhotes. A fêmea, no momento da cópula, transfere os ovos de sua bolsa incubadora para dentro da bolsa incubadora do macho. A fecundação é interna, pois ocorre dentro da bolsa incubadora do macho, no momento que ele libera o esperma. Essa bolsa fica na região ventral da cauda. A gestação dura dois meses, geralmente na primavera. No momento do nascimento, os ovos eclodem dentro da bolsa incubadora. O macho se contorce violentamente para expelir os filhotes, em média 500 por gestação.
Os filhotes nascem com menos de 1 cm, transparentes. Apesar de sua fragilidade, já se tornam completamente independentes dos pais ao nascer. A primeira coisa que fazem é subir a superfície para encher as bexigas natatórias de ar, para que tenham equilíbrio ao nadar.
É peixe quando pula e descortina a clara possibilidade de mudar de opinião é peixe quando sem ligar a seta muda o rumo inverte a coisa, embola o pensamento e então ... é peixe quando o germe da loucura se transforma em claridade e anda pela contramão é peixe quando anda no oceano de quarenta correntezas sem nenhuma embarcação é peixe quando salta o precipício da responsabilidade e tem uma queda pra ilusão é peixe quando anda contra o vento, desafia o sofrimento e carrega o mundo com a mão é peixe quando a luz do misticismo se transforma na procura do princípio e da razão é peixe quando anda no oceano de quarenta correntezas sem nenhuma embarcação .
Oswaldo Montenegro
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Pois há menos peixinhos a nadar no mar do que os beijinhos que darei na sua boca...
A verdadeira estória da sereiazinha é diferente da contada pela Disney. A estória que Hans Christian Andersen criou é a estória de uma sereia que sonhava em ter pernas. Suas irmãs a alertavam que isso lhes seria fatal, pois estaria terminantemente proibida de falar. Caso falasse,ela e todas as outras virariam espuma do mar.
Passou-se o tempo e ocorreu um naufrágio. O príncipe por quem a sereiazinha suspirava, se afogava em suas águas e ela, lutando contra o mar tempestuoso, o salvou. Colocou-o na praia e voltou para o mar. Pediu então ela, ao deus Netuno, que lhe concedesse o desejo de se tornar uma mulher , garantindo-lhe o silêncio eterno em troca. E o desejo lhe foi concedido.
O príncipe sem nada saber conheceu-a num passeio pela praia. E, por ela ser tão bela e silenciosa, isso lhe agradou e ele a levou para o castelo.
Passaram-se alguns meses e os preparativos do casamento do príncipe se iniciaram. A sereiazinha estava extremamente feliz em sua companhia, quando ele lhe conta que irá se casar com a princesa do reino ao lado, sem mesmo amá-la mas, pelo fato dela ter lhe salvo a vida num naufrágio. A sereiazinha desesperou-se e queria lhe dizer que tinha sido ela a sua salvadora e como ele não a compreeu, ela lhe gritou a verdade. Neste instante, ela e todas as sereias do mar se transformaram em espuma do mar.
Sentado à beira mar, do alto do mais belo penhasco que há na Terra, Enquanto vivo lembranças de eras distantes que não voltarão jamais, Ouço o canto da sereia trazido pela onda azul do mar. Sob o encantamento inevitável, ébrio do canto Deslizo docemente sobre as camadas de ar E lenta, magicamente pouso sereno na areia quente. Desço o penhasco portanto; troco-o pela areia do mar. Com o rosto ferido pela areia cruel, Ainda sofrendo as lembranças daquela que se foi para sempre, Meu ser frágil e cansado repentinamente mergulha Numa onda doce, pura, de felicidade infinita. E voando, vai pra longe a saudade que sinto dela. O canto da sereia azul arranca de mim a última gota de sofrimento, Das lembranças daquela que vive hoje entre as hostes celestiais. Mas vejam! O que é esse brilho intenso que emana do tridente do pai? Que luz é essa que fere tão profundamente os céus azuis? É um relâmpago que corta o céu e interrompe o canto da sereia azul. Cessa o canto, evapora-se o bem virtual e vem a dor real. Meu mundo de sofrimento reconstrói-se. Minha alma volta e chora de saudades daquela que não virá jamais. Marinheiros de todas as eras: cuidai-vos. O sofrimento extinto pelo canto da sereia, Abre o vazio para o sofrimento maior que virá depois. Pobre de nós e de todos aqueles que fincam suas estacas Nos sons vazios da sereia azul da cor do mar!
A imagem estereotipada das sereias é que têm uma doce e melodiosa voz em que concentram todo o seu poder. Com seu canto podem enfeitiçar e fazer enlouquecer os homens, os pássaros, os peixes, o vento e a água. Como os outros elementais da natureza, se comunicam com todos os seres vivos e são capazes de controlar as forças naturais em seu benefício, dentro de certos limites. Seu poder está associado a lenda negra que conta que elas alcançam seu grau máximo nas noites de lua cheia, quando sobem à superfície e com seus cantos chamam as nevoas, refugiando-se nelas para esperarem os barcos que passam próximos de seus refúgios. Outras vezes, seus cantos são destinados aos ouvidos dos marinheiros que caem enfeitiçados e acabam loucos ou mortos.
"Rei terrível do mar, vós que tendes as chaves das cataratas do céu e que encerais as águas subterrâneas nas cavernas da terra; rei do dilúvio e das chuvas da primavera, a vós que abris as nascentes dos rios e das fontes, a vós que ordenais à umidade, que é como o sangue da terra, de tornar-se seiva das plantas, nós vos adoramos e vos invocamos. A nós, vossas móveis e variáveis criaturas, falai-nos nas grandes comoções do mar e tremeremos diante de vós; falai-nos também no murmúrio das límpidas águas, e desejaremos o vosso amor. Ó imensidade na qual vão perder-se todos os rios do ser, que sempre renascem em vós! Ó oceano das perfeições infinitas! Altura que vos mirais na profundidade; profundidade que exalais na altura, levai-nos à verdadeira vida pela inteligência e pelo amor! Levai-nos à imortalidade pelo sacrifício, a fim de que sejamos considerados dignos de vos oferecer, um dia, a água, o sangue e as lágrimas, para remissão dos erros. Amém."
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Eu me encontrei no marco do horizonte Onde as nuvens falam, Onde os sonhos têm mãos e pés E o mar é seduzido pelas sereias.
Ao longo do tempo, as sereias mudaram de forma. Seu primeiro historiador, o rapsodo do livro XII da Odisséia, não conta como eram; para Ovídio, são aves de plumagem avermelhada e rosto de virgem; para Apolônio de Rodes, da metade do corpo para cima são mulheres e da metada para baixo aves marinhas; para o mestre Tirso de Molina (e para a heráldica), “metade mulheres, metade peixes”. Não menos discutível é seu gênero; o dicionário clássico de Lemprière entende que são ninfas, o de Quicherat que são monstros, e o de Grimal que são demônios. Moram numa ilha do poente, perto da ilha de Circe, mas o cadáver de uma delas, Partênope, foi encontrado na Campânia e deu seu nome à famosa cidade que agora se chama Nápoles, e o geográfo Estrabão viu sua sepultura e assistiu aos jogos ginásticos celebrados periodicamente para honrar sua memória.
A Odisséia conta que as sereias atraíam os navegantes e os levavam à ruína, e que Ulisses, para ouvir seu canto e não perecer, tapou os ouvidos dos remadores com cera e ordenou que o amarrassem ao mastro. Para tentá-lo, as sereias lhe ofereceram o conhecimento de todas as coisas do mundo.
Uma tradição recolhida pelo mitólogo Apolodoro em sua Biblioteca narra que Orfeu, a bordo da nave dos argonautas, cantou com mais doçura que as sereias e que estas se jogaram no mar e se transformaram em rochedos, porque sua lei era morrer quando alguém não fosse afetado por seu feitiço. A esfinge também se precipitou das alturas quando adivinharam seu enigma.
BORGES, Jorge Luis. O livro dos seres imaginários.
(Sobre a frase musical de Ivar Frounberg "Was sagen die Sirenen als Odysseus vorbei segelte".)
Ninguém jamais ouviu um canto igual ao canto que te canto escuta: as ondas e os ventos se calaram e a noite e o mar só ouvem minha voz - a noite e o mar e tu marinheiro do mar de rosas verdes:
virás: é um leito de rosas e lençóis de jasmim mais o lençol de aromas de meu corpo e dormirás comigo e os que dormem com deusas deuses serão - verás cada arco de minhas curvas à forma de teu corpo moldaremos - e a pele tua aprenderá da minha aroma e maciez e música e entre garganta e nuca aprenderás a noite dos que dormem a aurora dos que acordam sobre os seios das deusas também deuses.
Vem dormir comigo e comigo e todas as sereias.
Todas as deusas se entregam ao amante que um dia possuiu uma deusa e então todas as fêmeas dos homens Helenas, Briseidas e a Penélope tua hão de implorar às Musas - e as Musas a Eros e Afrodite a volúpia de uma noite contigo.
Não partas! se partires as velas de tua nau serão escassas para enxugar-te as lágrimas - e nunca nunca mais tocarás a pele das deusas nunca mais a virilha das fêmeas dos homens e nunca mais serás um deus e nunca mais a melodia de uma canção de amor dos hinos do himeneu abelhas mortas para sempre irão morar na pedra do jazigo de cera de teus ouvidos cegos.
Mas vem e vem dormir comigo e comigo e minhas irmãs e todas as sereias do mar as sereias da terra as sereias dos céus.
Navegava o poeta em seu barquinho pelo cibernético oceano calmamente Navegava o poeta em seu caminho cortando as ondas sob o sol ardente
Qual Ulisses, ouviu o canto melodioso, um canto de encanto irresistível. Foi-se o poeta buscar o canto aprazível, entre todos os cantos o mais primoroso.
Encontrou o poeta a fonte do canto: os lábios de sereia em melodia perdeu-se o poeta nos seus encantos
em cantos de amor em pura sinfonia encheu-se o mundo de puro espanto poeta e sereia, a amar em harmonia.
Jorge Linhaça
Mas o poder das sereias é grande: o da poesia aliada ao conhecimento.
Com a flor do nada Enlaçada em seus cabelos de crepúsculo Ela tece um silêncio de farol Longínqua lanterna Nos altos campos da espera Aguarda uma visita externa Nas quimeras dos seus sonhos Vira um estranho De capa azul cintilante Sonhava que era uma sereia E que falando por notas musicais Atraía o visitante Para o seu jardim de sons imaginários Mas sempre acordava muda Lembrando do ser das estrelas...
C'est la sirene, Qui va chanter La cantilene, Qui fait aimer.
Sereia Viver aqui eu não posso Nem no vale, nem na serra; Eu não sou filha da terra, Eu sou sereia do mar. Correi, ondas, brandamente, Correi, vinde me buscar.
Nasci no seio das vagas, Numa gruta de cristal; Em colunas de coral O meu berço se embalou. Ondas, levai-me convosco, Que eu desta terra não sou.
O amor criou-me entre pérolas Sobre fúlgidas areias, Mago canto de sereias Meus sonos acalentou. Ondas, levai-me convosco, Que eu também sereia sou.
Eu não sou filha da terra, Vivo triste nestas plagas; Embalada sobre as vagas, Só no mar quero viver. Correi, vinde, ó minhas ondas. A meus pés vinde gemer,
No regaço cristalino Brandamente me tomai; Aos plácios de meu pai Vinde, vinde me levar. Correi, ondas, pressurosas, Levai a filha do mar.
E se alguém na terra ingrata Sentindo loucos amores, Meus encantos e favores Insensato desejar, Em torno a mim, bravas ondas, Vinde em fúria rebentar.
Em solitário rochedo, Batido pelas tormentas, Ide, ó ondas turbulentas, Ide longe me ocultar. Rugindo ali noite e dia, Guardai a filha do mar.
Sentada ao pé de um rochedo, Com os pés na branca areia, Assim cantava a sereia A linda filha do mar. E a onda mansa, gemendo, Os pés lhe vinha beijar.
Pescador, que além vogava, No seu batel escondido, Absorto prestava ouvido A tão saudoso cantar, E a vela e o remo esquecia Ouvindo a filha do mar.
III
PESCADOR
Não mais lamentes Em tom magoado Teu triste fado, Filha do mar.
Vem a meu barco, Nos braços meus Aos lares teus Te irei levar.
De novo os belos Paços reais, Entre os cristais Irás saudar,
E sobre as finas, Fulvas areias, Entre as sereias Irás cantar.
Embora sejam Teus ermos lares Entre os algares Do fundo mar.
Sejam embora Negro alcantil, Que monstros mil 'Stão a guardar,
Onde as tormentas Sempre batendo, Com ronco horrendo Vão rebentar.
Irei, se queres, Agora mesmo, Sem medo, a esmo Te acompanhar.
Meu barco é leve, Meu braço é forte, E a própria morte Sabe afrontar.
Só peço em paga Da doce lida Passar a vida A te adorar,
E a teus joelhos Sempre prostrado Teu rosto amado A contemplar.
Oh! vem comigo, Vem pressurosa, Vem, ó formosa Filha do mar.
IV
Calou-se o barqueiro amante; Mas depois ouviu, tremendo, Um canto, que mais ao longe, Mais ao longe foi morrendo. A cantar e a fugir A sereia ia dizendo:
SEREIA
Eu sou pérola das vagas, Que nao sei, nem quero amar; O meu peito é como a rocha, Onde em vão esbarra o mar. Mancebo, vai noutra parte Teus amores suspirar.
Do que existe sobre a terra Nada me pode agradar; Só amo a Deus nas alturas, E a liberdade no mar. Mancebo, vai noutra parte Teus amores suspirar.
V
Desta canção fugitiva Os ecos ainda duravam, E nas praias suspiravam Entre os bramidos do mar; E o pescador entre angústias Sentia o peito estalar.
PESCADOR
Por que foges, branca fada De formosura sem par? Por que me escondes teu brilho, Formosa estrela do mar?... Ronca em torno a tempestade. Meu barco vai soçobrar.
Só tu podes no meu peito Uma esperança plantar; E as tormentas, que me cercam, Com tua luz aplacar. Nestes medonhos abismos Nao me deixes soçobrar. Ferve o mar, o céu em chamas
Vem abismos aclarar; Nestas águas desastrosas Vai meu barco soçobrar. Vem salvar-me por piedade, Formosa estrela do mar.
VI
Longos dias se passaram; Ninguém mais ouviu cantar A linda filha das águas Nem na praia, nem no mar. E vivia o pescador Triste e só a definhar.
Se ousava nas ermas praias Seu queixoso canto alçar, Só ouvia longe, longe Uma voz a lhe bradar: "Mancebo, vai noutra parte Teus amores suspirar."
VII
Passaram mais dias, meses; já cansado de pensar O pescador sem barco soltou ao mar. Ei-lo sem norte e sem rumo Nas ondas a resvalar.
Ei-lo que vai mar em fora. Nas ondas do mar bravio Seu amor louco e sombrio Quer consigo sepultar. Contra uma rocha empinada Vai seu barco espedaçar.
Mas eis soa-lhe aos ouvidos Voz celeste e maviosa, Em toada lamentosa Tristes coplas a cantar. Aos acentos suspirosos Cala a brisa, e geme o mar.
VIII
SEREIA
Sou moça e sou formosa; Dos mares sou princesa; Em graças e beleza Jamais achei igual. E vivo aqui sozinha, Ai céus! para meu mal.
E vivo aqui sozinha No seio de esplendores; Ninguém quer meus amores Ninguém me vem buscar. E eu sou a mais formosa Das filhas deste mar.
E eu sou a mais formosa E a mais alva açucena, Que sobre a onda serena Balança o airoso hastil. Mas nesta solidão Que serve ser gentil?
Mas nesta solidão Ninguém vem consolar-me; E sempre a lastimar-me Aqui morrerei só. Ai triste de mim! triste! Ninguém de mim tem dó.
IX
Ouvindo a canção chorosa O barqueiro estremeceu, E entregue a seus devaneios O leme e a vela esqueceu E com olhar desvairado O horizonte percorreu.
Nem no mar, nem no rochedo Vulto humano percebeu E esta frase piedosa Pelos lábios lhe tremeu: "Esta triste, que assim chora, É infeliz, como eu."
Depois firme e resoluto Em pé na proa se ergueu, E para às alheias mágoas Juntar o queixume seu Alçando a voz sobre as vagas Desta sorte respondeu:
X
PESCADOR
Por entre as ondas bravias, De mil tormentas batido, Em busca de um bem perdido Voga, voga, ó batel meu. Voga!...um dia saberemos Onde a ingrata se escondeu.
Houve um dia, uma sereia... Oh! que linda ela não era!... Porém tão ingrata e fera, Que de amor me enlouqueceu. Dizei, nuas penedias, Onde a ingrata se escondeu.
Ela deixou-me, - a cruel! - Entregue a negros pesares, Lastimando sobre os mares O triste destino meu. Dizei-me, ó ondas sonoras, Se ela de mim se esqueceu
Se nas asas do tufão Devassando o mar profundo Na raia extrema do mundo A meus olhos se escondeu, Neste barco aventureiro. Lá mesmo voarei eu.
Se entre monstros marinhos Lá no mais fundo dos mares, Em cristalinos algares Se oculta o retiro seu, Em meu amor confiado Lá também descerei eu.
Se entre rochas malditas, Entre grossos vagalhões, Defendidos por dragões Seus palácios escondeu, Mil mortes desafiando Lá mesmo chegarei eu.
Por entre as ondas bravias De mil tormentas batido Em busca de um bem perdido Voga, voga, ó batei meu. Voga!...um dia saberemos, Onde a ingrata se escondeu.
XI
SEREIA
Nestas praias solitárias Que procuras, pescador?... Vens buscar pérola finas, E corais de alto valor?... Se tais tesouros desejas, Voga além, ó pescador.
Que estrela por estes mares Te conduz, o pescador?... Queres ser nauta valente, Deste mares ser o senhor?... Se tal ambição te ocupa Passa além, ó pescador.
Os mistérios saber queres Desta ilha, ó pescador?... E deste asilo os segredos Aos olhos do mundo expor? Se é esse o desejo teu, Vai-te embora, ó pescador.
Mas se perigos insanos Afrontando sem pavor, Nesta ilha solitária Tu vens procurar amor A meus braços sem detença, Corre, voa, ó pescador.
XII
Na base da penedia O vulto branco surdiu De uma donzela formosa Como igual nunca se viu. Para lá o pescador O barco seu impeliu.
Saltando na branca areia Aos pés da bela caiu; Mas ela com brando riso Meigas frases proferiu, Beijou-lhe a fronte incendida E os alvos braços lhe abriu
O batel abandonado No pego se submergiu, E o ditoso par amante Entre rochas se sumiu, E por aquelas paragens Nunca mais ninguém os viu.
Às vezes por horas mortas, Pelas noites de luar Ao largo vê-se um barquinho Solitário a velejar. Quem vai dentro não se sabe Nem se vê ninguém remar.
Apenas ouve-se um canto, Tão triste, que faz chorar; E os pescadores, que o ouvem, Começam logo a rezar, Dizendo consigo: é ela, É ela, a filha do mar!
Os antigos poetas diziam que as canções das ondinas eram ouvidas no vento oeste e que sua vidas eram consagradas ao embelezamento da Terra material.Esta Invocação deverá ser feita, com os pés descalços, em direção ao Norte e próximo de água corrente ou com uma vasilha de água fresca e cristalina: “Eu vos saúdo, Ondinas, Que constituís a representação do elemento Água; Conservai a pureza da minha alma, como o o Elemento mais precioso, da minha vida e do meu organismo. Fazei-me pleno de sua criação fecunda, e dai-me sempre intuição de forma nobre e correta. Mestres da Água, eu vos saúdo fraternalmente. Amém.”
Com esta Invocação, pode-se obter amor, intuição, sensibilidade e tudo aquilo que a água pode nos dar.
O céu toca o mar no horizonte com seus fios de cabelo azuis... De quem são os olhos onde vejo o brilho de um sol, Um Rei alaranjado de douradas vestes incandescentes ? Um sonho... Adormecido na espuma branca das ondas Encontro a calma e a paz que mereço... Gotas prateadas que cintilam tocam meu rosto, Despertando o corpo... Quem és ? Passa ao longe a gaivota acinzentada De encontro à chuva que armazena a nuvem... As águas levemente se agitam... Quem és ? Um peixe colorido salta à minha frente Pairando no ar por um instante apenas, Dissolvendo-se no espaço... " Louco ! ", penso... Mas se é loucura vagar em pensamentos Ao ontem de minha existência, É certo que já não sou são ! Olhos pesam e se fecham para o dia... Corre adiante a luz esverdeada da esmeralda Que emite o poder de sua alma... Esperança... Os longos cabelos sobre os ombros E as mãos a cobrirem o peito nu... O colar parece ter a vida do reino em que vive... Estou só... " A insanidade da solidão...", divago... De que vale o homem se seus dias futuros estão mortos ? Nem o amor ao Criador pode aplacar a dor De ter a vida vazia... Sopra um vento frio em meu deserto interior... Houve um sentido, um dia... A forma nas sombras de uma noite passada Encantou meus sentidos adormecidos... Era veloz e ia e vinha agilmente sob o fio negro do oceano noturno... De um impulso, vi sua cauda balouçar no ar E desfalecer ao leve contato com seu lar... Sonhador... Sozinho é o homem que crê em seu coração... Triste da alma que se faz fraca diante dos sentimentos... Apaixonei-me... Do momento que se fez fugaz, Somente guardo a tela dos segundos em que vi seu rosto... Desperto com o som do bater da brisa Nas asas do pássaro perdido... " Seria um canto ? ", me volta breve a esperança... Mas meu olhar se perde na amplidão da tarde... O barco, à deriva, mergulha em espera... " Não... Estarei sempre sozinho com meus sonhos... " O sol, ao longe, cumprimenta com uma mesura delicada A irmã noite que se aproxima... O homem se recolhe e se larga frouxamente sobre a madeira, E dorme o sono do envelhecimento de seu ser... Eternamente...
A beleza parece ser uma característica comum dos espíritos da água. Onde quer que as encontremos representadas na arte e na escultura, são sempre cheias de graça e simetria. Controlando o elemento água - que sempre foi um símbolo feminino - é natural que os espíritos da água sejam com mais freqüência simbolizados como fêmeas. Existem muitos grupos de Ondinas. Algumas habitam cataratas, onde podem ser vistas entre os vapores; outras têm o seu habitat nos pântanos, charcos e brejos, entretanto outras, ainda, vivem em claros lagos de montanha. Em geral quase todas as ondinas se parecem com seres humanos na forma e tamanho, embora aquelas que habitamos rios e fontes tenham proporções menores. Normalmente elas vivem em cavernas de corais ou nos juncais à margem dos rios ou das praias. As Ondinas servem e amam sua rainha, Necksa. Elas são antes de tudo seres emocionais, amigáveis para com a vida humana e que gostam de servir à humanidade. Às vezes são representadas cavalgando golfinhos marinhos e outros peixes grandes, e parecem ter um amor especial pelas flores e plantas, às quais servem de maneira devotada e inteligente .
Náiades são ninfas aquáticas com o dom da cura e da profecia e com certos controles sobre a água. Assemelhavam-se às sereias e, com a voz igualmente bela, elas viviam em fontes e nascentes ou até cachoeiras; deixavam beber dessa água, mas não se banhar delas, e puniam os infratores com amnésia, doenças e até com a morte.
As Náiades se dividem em cinco tipos diferentes:
* Crinéias: Náiades que habitam fontes; * Limneidas (ou Limnátides): Náiades que habitam os lagos; * Pegéias: Náiades que habitam nascentes; * Potâmides: Náiades que habitam os rios; * Eleionomae: Náiades que habitam os pântanos.
Náiades, vós, que os rios habitais que os saudosos campos vão regando, de meus olhos vereis estar manando outros, que quase aos vossos são iguais.
Dríades, vós, que as setas atirais, os fugitivos cervos derrubando, outros olhos vereis que, triunfando, derrubam corações, que valem mais.
Deixai as aljavas logo, e as águas frias, e vinde, Ninfas minhas, se quereis saber como de uns olhos nacem mágoas;
vereis como se passam em vão os dias; mas não vireis em vão, que cá achareis nos seus as setas, e nos meus as águas.
Luís Vaz de Camões
sábado, 29 de janeiro de 2011
Lá está o barquinho de velas brancas, navegando no mar! Bem que ele poderia navegar só nas baias e enseadas, onde não há perigo e o mar é sempre manso. Mas não! Deixando a solidez da terra firme , ele se aventura para sentir o vento forte enfunando as velas e o salpicar da água salgada que salta da quilha contra as ondas. "Sem nunca ter um porto onde chegar" , ele navega pelo puro prazer de entrar no mar.
Rubem Alves
Muitas velas. Muitos remos. Âncora é outro falar... Tempo que navegaremos não se pode calcular. Vimos as Pleiâdes. Vemos agora a Estrela Polar. Muitas velas. Muitos remos. Curta vida. Longo mar.