quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
O Canto da Sereia Azul
Sentado à beira mar, do alto do mais belo penhasco que há na Terra,
Enquanto vivo lembranças de eras distantes que não voltarão jamais,
Ouço o canto da sereia trazido pela onda azul do mar.
Sob o encantamento inevitável, ébrio do canto
Deslizo docemente sobre as camadas de ar
E lenta, magicamente pouso sereno na areia quente.
Desço o penhasco portanto; troco-o pela areia do mar.
Com o rosto ferido pela areia cruel,
Ainda sofrendo as lembranças daquela que se foi para sempre,
Meu ser frágil e cansado repentinamente mergulha
Numa onda doce, pura, de felicidade infinita.
E voando, vai pra longe a saudade que sinto dela.
O canto da sereia azul arranca de mim a última gota de sofrimento,
Das lembranças daquela que vive hoje entre as hostes celestiais.
Mas vejam! O que é esse brilho intenso que emana do tridente do pai?
Que luz é essa que fere tão profundamente os céus azuis?
É um relâmpago que corta o céu e interrompe o canto da sereia azul.
Cessa o canto, evapora-se o bem virtual e vem a dor real.
Meu mundo de sofrimento reconstrói-se.
Minha alma volta e chora de saudades daquela que não virá jamais.
Marinheiros de todas as eras: cuidai-vos.
O sofrimento extinto pelo canto da sereia,
Abre o vazio para o sofrimento maior que virá depois.
Pobre de nós e de todos aqueles que fincam suas estacas
Nos sons vazios da sereia azul da cor do mar!
Paulo Bedaque
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