domingo, 27 de fevereiro de 2011




Aquele que duvida é semelhante às ondas do mar, impelidas e agitadas pelo vento.

Textos Bíblicos















Homem livre, tu sempre gostarás do mar.
Charles Baudelaire

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Eu sou a concha das praias


















Eu sou a concha das praias
Que anda batida da onda
E, de vaga em outra vaga,
Não tem aonde se esconda.
Mas se um menino, da areia
A colher e a for guardar
No seio... ali adormece
E é ali seu descansar.
Pois sou a concha da praia
Que anda batida da onda...
Sê tu esse seio infante,
Aonde a triste se esconda!


Eu sou quem vaga perdido,
Sob o sol, com passo incerto,
Contando por suas dores
As areias do deserto.
Mas se um palmar, no horizonte,
Se vê, súbito, surgir,
Tem ali a tenda e a fonte
E é ali o seu dormir.
Pois sou quem vaga perdido,
Sob o sol, com passo incerto...
Sê tu sombra de palmeira,
Sê-me tenda no deserto!

Sou o peito sequioso
E o viúvo coração,
Que em vão chama, em vão procura
Outro peito, seu irmão.
Mas se avista, um dia, a alma
Por quem andou a chamar,
Tem ali ninho e ventura
E é ali o seu amar.
Pois sou quem anda chorando
À procura dum irmão...
Sê tu a alma que me fale,
Inda uma hora ao coração!

Antero de Quental

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Fundo do mar


















No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Azul e branco



















Concha e cavalo-marinho
Mote de Pedro Nava


Massas geométricas
Em pautas de música
Plástica e silêncio
Do espaço criado.

Concha e cavalo-marinho.

O mar vos deu em corola
O céu vos imantou
Mas a luz refez o equilíbrio.

Concha e cavalo-marinho.

Vênus anadiômena
Multípede e alada
Os seios azuis
Dando leite à tarde
Viu-vos Eupalinos
No espelho convexo
Da gota que o orvalho
Escorreu da noite
Nos lábios da aurora.

Concha e cavalo-marinho.

Pálpebras cerradas
Ao poder violeta
Sombras projetadas
Em mansuetude
Sublime colóquio
Da forma com a eternidade.

Concha e cavalo-marinho.

II



Na verde espessura
Do fundo do mar
Nasce a arquitetura.

Da cal das conchas
Do sumo das algas
Da vida dos polvos
Sobre tentáculos
Do amor dos pólipos
Que estratifica abóbadas
Da ávida mucosa
Das rubras anêmonas
Que argamassa peixes
Da salgada célula
De estranha substância
Que dá peso ao mar.

Concha e cavalo-marinho.

Concha e cavalo-marinho:
Os ágeis sinuosos
Que o raio de luz
Cortando transforma
Em claves de sol
E o amor do infinito
Retifica em hastes
Antenas paralelas
Propícias à eterna
Incursão da música.

Concha e cavalo-marinho.

III



Azul... Azul...

Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco
Azul e Branco

Concha...

e cavalo-marinho.

Vinicius de Moraes

Ocaso no Mar







 








O céu a valva azul de uma concha semelha
De que outra valva é o mar ouriçado de escamas.
No ponto de junção, o sol - molusco em chamas -
Do bisso espalha no ar a incendida centelha.

Listões de intenso anil, raias de cor vermelha,
Grandes manchas de opala, arabescos e lhamas,
Da luz todos os tons, da cor todas as gamas
Vibram na valva azul que a valva verde espelha.

Mas todo este fulgor esmaece e se apaga.
Tímido, o olhar do sol bóia de vaga em vaga,
Porque uma sombra investe a sua concha enorme.

É a noite: como um polvo, insidiosa, se eleva.
Desenrola os seus mil tentáculos de treva:
E o sol, vendo-a crescer, fecha as valvas e dorme.

Artur Gonçalves de Sales

Cavalo marinho





 















O cavalo-marinho possui uma cabeça alongada, muito parecida com a cabeça dos cavalos, inclusive a crina. Sua semelhança com o cavalo deu origem ao nome. O corpo desse pequeno e delicado peixe é coberto por placas em forma de anel. Possuem ainda a barbatana dorsal redonda e minúsculas nadadeiras peitoral e anal. Esse peixe pode medir entre 15 cm e 18 cm.
Assim como os camaleões, os cavalos-marinhos mudam de cor e movimentam seus olhos saltados em diferentes direções, independentes um do outro. O cavalo-marinho é o único peixe que possui a cabeça perpendicular ao corpo

Para nadar, o cavalo-marinho vibra as barbatanas dorsais com velocidade. Nada na posição vertical, e possui uma cauda preênsil com a qual se agarra em plantas marinhas no momento em que se alimentam.

Em todas as fases de sua vida, possui hábitos alimentares carnívoros, alimentando-se de pequenos crustáceos, moluscos e vermes, que são sugados por seu focinho tubular. Só comem alimentos que se movimentam.
A reprodução desse peixe é fora do comum, pois é o macho da espécie que gera os filhotes. A fêmea, no momento da cópula, transfere os ovos de sua bolsa incubadora para dentro da bolsa incubadora do macho. A fecundação é interna, pois ocorre dentro da bolsa incubadora do macho, no momento que ele libera o esperma. Essa bolsa fica na região ventral da cauda. A gestação dura dois meses, geralmente na primavera. No momento do nascimento, os ovos eclodem dentro da bolsa incubadora. O macho se contorce violentamente para expelir os filhotes, em média 500 por gestação.

Os filhotes nascem com menos de 1 cm, transparentes. Apesar de sua fragilidade, já se tornam completamente independentes dos pais ao nascer. A primeira coisa que fazem é subir a superfície para encher as bexigas natatórias de ar, para que tenham equilíbrio ao nadar.


















É peixe quando pula e descortina
a clara possibilidade de mudar de opinião
é peixe quando sem ligar a seta muda o rumo
inverte a coisa, embola o pensamento e então ...
é peixe quando o germe da loucura
se transforma em claridade e anda pela contramão
é peixe quando anda no oceano de quarenta correntezas
sem nenhuma embarcação
é peixe quando salta o precipício da responsabilidade
e tem uma queda pra ilusão
é peixe quando anda contra o vento, desafia o sofrimento
e carrega o mundo com a mão
é peixe quando a luz do misticismo
se transforma na procura do princípio e da razão
é peixe quando anda no oceano de quarenta correntezas
sem nenhuma embarcação .

Oswaldo Montenegro

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

















Pois há menos peixinhos a nadar no mar
do que os beijinhos que darei na sua boca...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A sereiazinha












A verdadeira estória da sereiazinha é diferente da contada pela Disney. A estória que Hans Christian Andersen criou é a estória de uma sereia que sonhava em ter pernas. Suas irmãs a alertavam que isso lhes seria fatal, pois estaria terminantemente proibida de falar. Caso falasse,ela e todas as outras virariam espuma do mar.

Passou-se o tempo e ocorreu um naufrágio. O príncipe por quem a sereiazinha suspirava, se afogava em suas águas e ela, lutando contra o mar tempestuoso, o salvou. Colocou-o na praia e voltou para o mar. Pediu então ela, ao deus Netuno, que lhe concedesse o desejo de se tornar uma mulher , garantindo-lhe o silêncio eterno em troca. E o desejo lhe foi concedido.

O príncipe sem nada saber conheceu-a num passeio pela praia. E, por ela ser tão bela e silenciosa, isso lhe agradou e ele a levou para o castelo.

Passaram-se alguns meses e os preparativos do casamento do príncipe se iniciaram. A sereiazinha estava extremamente feliz em sua companhia, quando ele lhe conta que irá se casar com a princesa do reino ao lado, sem mesmo amá-la mas, pelo fato dela ter lhe salvo a vida num naufrágio. A sereiazinha desesperou-se e queria lhe dizer que tinha sido ela a sua salvadora e como ele não a compreeu, ela lhe gritou a verdade. Neste instante, ela e todas as sereias do mar se transformaram em espuma do mar.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O canto da Sereia





















Praia de vento sossegado
Com ondas que dormem na areia,
Pescador sonha com a sereia
Tendo o corpo repousado


Na proa da barca acanhada.
Ela, na água, a cauda meneia,
Num chamado e ele a nomeia:
- Mulher – sempre desejada.


Numa dança que é um mergulho,
Entoa nostálgico canto feiticeiro
Que será o som derradeiro,
Um suave doce marulho


Que ouvirá o pescador
Antes de se lançar ao mar
Perdido de tanto amar
A visão que traz a dor.


Desperta assustado a lembrar
O incrível sonho momentâneo,
Virou o remo instantâneo
Partindo para encontrar


O amor real que em terra deixou
Quando pela madrugada partiu
Com terno beijo se despediu
Da morena que à espera ficou.

Maria Hilda de J. Alão

O Canto da Sereia Azul




 












Sentado à beira mar, do alto do mais belo penhasco que há na Terra,
Enquanto vivo lembranças de eras distantes que não voltarão jamais,
Ouço o canto da sereia trazido pela onda azul do mar.
Sob o encantamento inevitável, ébrio do canto
Deslizo docemente sobre as camadas de ar
E lenta, magicamente pouso sereno na areia quente.
Desço o penhasco portanto; troco-o pela areia do mar.
Com o rosto ferido pela areia cruel,
Ainda sofrendo as lembranças daquela que se foi para sempre,
Meu ser frágil e cansado repentinamente mergulha
Numa onda doce, pura, de felicidade infinita.
E voando, vai pra longe a saudade que sinto dela.
O canto da sereia azul arranca de mim a última gota de sofrimento,
Das lembranças daquela que vive hoje entre as hostes celestiais.
Mas vejam! O que é esse brilho intenso que emana do tridente do pai?
Que luz é essa que fere tão profundamente os céus azuis?
É um relâmpago que corta o céu e interrompe o canto da sereia azul.
Cessa o canto, evapora-se o bem virtual e vem a dor real.
Meu mundo de sofrimento reconstrói-se.
Minha alma volta e chora de saudades daquela que não virá jamais.
Marinheiros de todas as eras: cuidai-vos.
O sofrimento extinto pelo canto da sereia,
Abre o vazio para o sofrimento maior que virá depois.
Pobre de nós e de todos aqueles que fincam suas estacas
Nos sons vazios da sereia azul da cor do mar!

Paulo Bedaque

O canto da sereia


















A imagem estereotipada das sereias é que têm uma doce e melodiosa voz em que concentram todo o seu poder. Com seu canto podem enfeitiçar e fazer enlouquecer os homens, os pássaros, os peixes, o vento e a água. Como os outros elementais da natureza, se comunicam com todos os seres vivos e são capazes de controlar as forças naturais em seu benefício, dentro de certos limites. Seu poder está associado a lenda negra que conta que elas alcançam seu grau máximo nas noites de lua cheia, quando sobem à superfície e com seus cantos chamam as nevoas, refugiando-se nelas para esperarem os barcos que passam próximos de seus refúgios. Outras vezes, seus cantos são destinados aos ouvidos dos marinheiros que caem enfeitiçados e acabam loucos ou mortos.

Oração das Ondinas





















"Rei terrível do mar, vós que tendes as chaves das cataratas do céu e que encerais as águas subterrâneas nas cavernas da terra; rei do
dilúvio e das chuvas da primavera, a vós que abris as nascentes dos rios e das fontes, a vós que ordenais à umidade, que é como o sangue
da terra, de tornar-se seiva das plantas, nós vos adoramos e vos invocamos. A nós, vossas móveis e variáveis criaturas, falai-nos nas
grandes comoções do mar e tremeremos diante de vós; falai-nos também no murmúrio das límpidas águas, e desejaremos o vosso amor. Ó
imensidade na qual vão perder-se todos os rios do ser, que sempre renascem em vós! Ó oceano das perfeições infinitas! Altura que vos
mirais na profundidade; profundidade que exalais na altura, levai-nos à verdadeira vida pela inteligência e pelo amor! Levai-nos à
imortalidade pelo sacrifício, a fim de que sejamos considerados dignos de vos oferecer, um dia, a água, o sangue e as lágrimas, para
remissão dos erros. Amém."

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011





















Eu me encontrei no marco do horizonte
Onde as nuvens falam,
Onde os sonhos têm mãos e pés
E o mar é seduzido pelas sereias.

Murilo Mendes

As sereias: "que a todos os homens encantam"






















“A voz doce como favo de mel” (Homero)

Ao longo do tempo, as sereias mudaram de forma. Seu primeiro historiador, o rapsodo do livro XII da Odisséia, não conta como eram; para Ovídio, são aves de plumagem avermelhada e rosto de virgem; para Apolônio de Rodes, da metade do corpo para cima são mulheres e da metada para baixo aves marinhas; para o mestre Tirso de Molina (e para a heráldica), “metade mulheres, metade peixes”. Não menos discutível é seu gênero; o dicionário clássico de Lemprière entende que são ninfas, o de Quicherat que são monstros, e o de Grimal que são demônios. Moram numa ilha do poente, perto da ilha de Circe, mas o cadáver de uma delas, Partênope, foi encontrado na Campânia e deu seu nome à famosa cidade que agora se chama Nápoles, e o geográfo Estrabão viu sua sepultura e assistiu aos jogos ginásticos celebrados periodicamente para honrar sua memória.

A Odisséia conta que as sereias atraíam os navegantes e os levavam à ruína, e que Ulisses, para ouvir seu canto e não perecer, tapou os ouvidos dos remadores com cera e ordenou que o amarrassem ao mastro. Para tentá-lo, as sereias lhe ofereceram o conhecimento de todas as coisas do mundo.

Uma tradição recolhida pelo mitólogo Apolodoro em sua Biblioteca narra que Orfeu, a bordo da nave dos argonautas, cantou com mais doçura que as sereias e que estas se jogaram no mar e se transformaram em rochedos, porque sua lei era morrer quando alguém não fosse afetado por seu feitiço. A esfinge também se precipitou das alturas quando adivinharam seu enigma.

BORGES, Jorge Luis. O livro dos seres imaginários.

O QUE AS SEREIAS DIZEM A ORFEU NA NOITE DO MAR






















(Sobre a frase musical de Ivar Frounberg
"Was sagen die Sirenen
als Odysseus vorbei segelte".)


Ninguém jamais ouviu um canto igual
ao canto que te canto
escuta: as ondas e os ventos se calaram e a noite e o mar
só ouvem minha voz - a noite e o mar e tu
marinheiro do mar de rosas verdes:

virás: é um leito de rosas e lençóis de jasmim
mais o lençol de aromas de meu corpo
e dormirás comigo
e os que dormem com deusas
deuses serão - verás
cada arco de minhas curvas
à forma de teu corpo moldaremos - e a pele tua
aprenderá da minha
aroma e maciez e música
e entre garganta e nuca aprenderás
a noite dos que dormem a aurora dos que acordam
sobre os seios das deusas também deuses.

Vem dormir comigo
e comigo
e todas as sereias.


Todas as deusas se entregam
ao amante que um dia possuiu uma deusa
e então todas as fêmeas dos homens
Helenas, Briseidas e a Penélope tua
hão de implorar às Musas - e as Musas a Eros e Afrodite
a volúpia de uma noite contigo.


Não partas!
se partires
as velas de tua nau serão escassas
para enxugar-te as lágrimas - e nunca
nunca mais tocarás a pele das deusas
nunca mais a virilha das fêmeas dos homens
e nunca mais serás um deus
e nunca mais a melodia de uma canção de amor
dos hinos do himeneu
abelhas mortas para sempre irão morar
na pedra do jazigo de cera
de teus ouvidos cegos.


Mas vem
e vem dormir comigo
e comigo
e minhas irmãs e todas
as sereias do mar
as sereias da terra
as sereias dos céus.

Gerardo Mello Mourão

O poeta e a sereia





















Navegava o poeta em seu barquinho
pelo cibernético oceano calmamente
Navegava o poeta em seu caminho
cortando as ondas sob o sol ardente

Qual Ulisses, ouviu o canto melodioso,
um canto de encanto irresistível.
Foi-se o poeta buscar o canto aprazível,
entre todos os cantos o mais primoroso.

Encontrou o poeta a fonte do canto:
os lábios de sereia em melodia
perdeu-se o poeta nos seus encantos

em cantos de amor em pura sinfonia
encheu-se o mundo de puro espanto
poeta e sereia, a amar em harmonia.

Jorge Linhaça










 












Mas o poder das sereias é grande: o da poesia aliada ao conhecimento.

O silêncio da Sereia





















Com a flor do nada
Enlaçada em seus cabelos de crepúsculo
Ela tece um silêncio de farol
Longínqua lanterna
Nos altos campos da espera
Aguarda uma visita externa
Nas quimeras dos seus sonhos
Vira um estranho
De capa azul cintilante
Sonhava que era uma sereia
E que falando por notas musicais
Atraía o visitante
Para o seu jardim de sons imaginários
Mas sempre acordava muda
Lembrando do ser das estrelas...

(Gustavo Adonias)

O canto da sereia




















Ao Luar, o mar contemplava!
Ouvi... O canto da Sereia,
Nas águas... Ela dançava...
Fiquei, encantado na areia...

Longa noite ao luar,
Esperando o mistério...
À beira-mar, fiquei a olhar,
Ouvi... O som do Saltério...

Horas passei... Sentado na areia,
A Sereia vi, um pouco, longe!
Lancei... Às águas, grã-teia,
A Sereia... Fugiu, mais pra longe...

Cintilante o seu belo corpo,
Emergido das cristalinas águas...
Esbelto e atraente corpo
Prateado, nas agitadas águas...

Enfeitiça, a dança, da Sereia,
Balança o corpo nas águas...
Ao som do Saltério e Harpa-eólia,
Cantando, vai a Sereia, sem mágoas...

É a Pérola dos Mares!
Surge na crista da onda...
Fascínio em noites de Luares,
Brilhando recostada com pompa...

Senti... Mavioso o seu canto,
Encheu, meu coração d'amor...
Fiquei, perplexo d'encanto,
Irradiei... Um estranho calor!...

Amor, presente de magia...
Sereia leva-me contigo,
Ficarei louco d'alegria
Sem medo do teu perigo!...

Franck P_LavD

A sereia e o pescador





















Balata

C'est la sirene,
Qui va chanter
La cantilene,
Qui fait aimer.

Sereia
Viver aqui eu não posso
Nem no vale, nem na serra;
Eu não sou filha da terra,
Eu sou sereia do mar.
Correi, ondas, brandamente,
Correi, vinde me buscar.

Nasci no seio das vagas,
Numa gruta de cristal;
Em colunas de coral
O meu berço se embalou.
Ondas, levai-me convosco,
Que eu desta terra não sou.

O amor criou-me entre pérolas
Sobre fúlgidas areias,
Mago canto de sereias
Meus sonos acalentou.
Ondas, levai-me convosco,
Que eu também sereia sou.

Eu não sou filha da terra,
Vivo triste nestas plagas;
Embalada sobre as vagas,
Só no mar quero viver.
Correi, vinde, ó minhas ondas.
A meus pés vinde gemer,

No regaço cristalino
Brandamente me tomai;
Aos plácios de meu pai
Vinde, vinde me levar.
Correi, ondas, pressurosas,
Levai a filha do mar.

E se alguém na terra ingrata
Sentindo loucos amores,
Meus encantos e favores
Insensato desejar,
Em torno a mim, bravas ondas,
Vinde em fúria rebentar.

Em solitário rochedo,
Batido pelas tormentas,
Ide, ó ondas turbulentas,
Ide longe me ocultar.
Rugindo ali noite e dia,
Guardai a filha do mar.

Sentada ao pé de um rochedo,
Com os pés na branca areia,
Assim cantava a sereia
A linda filha do mar.
E a onda mansa, gemendo,
Os pés lhe vinha beijar.

Pescador, que além vogava,
No seu batel escondido,
Absorto prestava ouvido
A tão saudoso cantar,
E a vela e o remo esquecia
Ouvindo a filha do mar.

III

PESCADOR

Não mais lamentes
Em tom magoado
Teu triste fado,
Filha do mar.

Vem a meu barco,
Nos braços meus
Aos lares teus
Te irei levar.

De novo os belos
Paços reais,
Entre os cristais
Irás saudar,

E sobre as finas,
Fulvas areias,
Entre as sereias
Irás cantar.

Embora sejam
Teus ermos lares
Entre os algares
Do fundo mar.

Sejam embora
Negro alcantil,
Que monstros mil
'Stão a guardar,

Onde as tormentas
Sempre batendo,
Com ronco horrendo
Vão rebentar.

Irei, se queres,
Agora mesmo,
Sem medo, a esmo
Te acompanhar.

Meu barco é leve,
Meu braço é forte,
E a própria morte
Sabe afrontar.

Só peço em paga
Da doce lida
Passar a vida
A te adorar,

E a teus joelhos
Sempre prostrado
Teu rosto amado
A contemplar.

Oh! vem comigo,
Vem pressurosa,
Vem, ó formosa
Filha do mar.

IV

Calou-se o barqueiro amante;
Mas depois ouviu, tremendo,
Um canto, que mais ao longe,
Mais ao longe foi morrendo.
A cantar e a fugir
A sereia ia dizendo:

SEREIA

Eu sou pérola das vagas,
Que nao sei, nem quero amar;
O meu peito é como a rocha,
Onde em vão esbarra o mar.
Mancebo, vai noutra parte
Teus amores suspirar.

Do que existe sobre a terra
Nada me pode agradar;
Só amo a Deus nas alturas,
E a liberdade no mar.
Mancebo, vai noutra parte
Teus amores suspirar.

V

Desta canção fugitiva
Os ecos ainda duravam,
E nas praias suspiravam
Entre os bramidos do mar;
E o pescador entre angústias
Sentia o peito estalar.

PESCADOR

Por que foges, branca fada
De formosura sem par?
Por que me escondes teu brilho,
Formosa estrela do mar?...
Ronca em torno a tempestade.
Meu barco vai soçobrar.

Só tu podes no meu peito
Uma esperança plantar;
E as tormentas, que me cercam,
Com tua luz aplacar.
Nestes medonhos abismos
Nao me deixes soçobrar.
Ferve o mar, o céu em chamas

Vem abismos aclarar;
Nestas águas desastrosas
Vai meu barco soçobrar.
Vem salvar-me por piedade,
Formosa estrela do mar.

VI

Longos dias se passaram;
Ninguém mais ouviu cantar
A linda filha das águas
Nem na praia, nem no mar.
E vivia o pescador
Triste e só a definhar.

Se ousava nas ermas praias
Seu queixoso canto alçar,
Só ouvia longe, longe
Uma voz a lhe bradar:
"Mancebo, vai noutra parte
Teus amores suspirar."

VII

Passaram mais dias, meses;
já cansado de pensar
O pescador sem
barco soltou ao mar.
Ei-lo sem norte e sem rumo
Nas ondas a resvalar.

Ei-lo que vai mar em fora.
Nas ondas do mar bravio
Seu amor louco e sombrio
Quer consigo sepultar.
Contra uma rocha empinada
Vai seu barco espedaçar.

Mas eis soa-lhe aos ouvidos
Voz celeste e maviosa,
Em toada lamentosa
Tristes coplas a cantar.
Aos acentos suspirosos
Cala a brisa, e geme o mar.

VIII

SEREIA

Sou moça e sou formosa;
Dos mares sou princesa;
Em graças e beleza
Jamais achei igual.
E vivo aqui sozinha,
Ai céus! para meu mal.

E vivo aqui sozinha
No seio de esplendores;
Ninguém quer meus amores
Ninguém me vem buscar.
E eu sou a mais formosa
Das filhas deste mar.

E eu sou a mais formosa
E a mais alva açucena,
Que sobre a onda serena
Balança o airoso hastil.
Mas nesta solidão
Que serve ser gentil?

Mas nesta solidão
Ninguém vem consolar-me;
E sempre a lastimar-me
Aqui morrerei só.
Ai triste de mim! triste!
Ninguém de mim tem dó.

IX

Ouvindo a canção chorosa
O barqueiro estremeceu,
E entregue a seus devaneios
O leme e a vela esqueceu
E com olhar desvairado
O horizonte percorreu.

Nem no mar, nem no rochedo
Vulto humano percebeu
E esta frase piedosa
Pelos lábios lhe tremeu:
"Esta triste, que assim chora,
É infeliz, como eu."

Depois firme e resoluto
Em pé na proa se ergueu,
E para às alheias mágoas
Juntar o queixume seu
Alçando a voz sobre as vagas
Desta sorte respondeu:

X

PESCADOR

Por entre as ondas bravias,
De mil tormentas batido,
Em busca de um bem perdido
Voga, voga, ó batel meu.
Voga!...um dia saberemos
Onde a ingrata se escondeu.

Houve um dia, uma sereia...
Oh! que linda ela não era!...
Porém tão ingrata e fera,
Que de amor me enlouqueceu.
Dizei, nuas penedias,
Onde a ingrata se escondeu.

Ela deixou-me, - a cruel! -
Entregue a negros pesares,
Lastimando sobre os mares
O triste destino meu.
Dizei-me, ó ondas sonoras,
Se ela de mim se esqueceu

Se nas asas do tufão
Devassando o mar profundo
Na raia extrema do mundo
A meus olhos se escondeu,
Neste barco aventureiro.
Lá mesmo voarei eu.

Se entre monstros marinhos
Lá no mais fundo dos mares,
Em cristalinos algares
Se oculta o retiro seu,
Em meu amor confiado
Lá também descerei eu.

Se entre rochas malditas,
Entre grossos vagalhões,
Defendidos por dragões
Seus palácios escondeu,
Mil mortes desafiando
Lá mesmo chegarei eu.

Por entre as ondas bravias
De mil tormentas batido
Em busca de um bem perdido
Voga, voga, ó batei meu.
Voga!...um dia saberemos,
Onde a ingrata se escondeu.

XI

SEREIA

Nestas praias solitárias
Que procuras, pescador?...
Vens buscar pérola finas,
E corais de alto valor?...
Se tais tesouros desejas,
Voga além, ó pescador.

Que estrela por estes mares
Te conduz, o pescador?...
Queres ser nauta valente,
Deste mares ser o senhor?...
Se tal ambição te ocupa
Passa além, ó pescador.

Os mistérios saber queres
Desta ilha, ó pescador?...
E deste asilo os segredos
Aos olhos do mundo expor?
Se é esse o desejo teu,
Vai-te embora, ó pescador.

Mas se perigos insanos
Afrontando sem pavor,
Nesta ilha solitária
Tu vens procurar amor
A meus braços sem detença,
Corre, voa, ó pescador.

XII

Na base da penedia
O vulto branco surdiu
De uma donzela formosa
Como igual nunca se viu.
Para lá o pescador
O barco seu impeliu.

Saltando na branca areia
Aos pés da bela caiu;
Mas ela com brando riso
Meigas frases proferiu,
Beijou-lhe a fronte incendida
E os alvos braços lhe abriu

O batel abandonado
No pego se submergiu,
E o ditoso par amante
Entre rochas se sumiu,
E por aquelas paragens
Nunca mais ninguém os viu.

Às vezes por horas mortas,
Pelas noites de luar
Ao largo vê-se um barquinho
Solitário a velejar.
Quem vai dentro não se sabe
Nem se vê ninguém remar.

Apenas ouve-se um canto,
Tão triste, que faz chorar;
E os pescadores, que o ouvem,
Começam logo a rezar,
Dizendo consigo: é ela,
É ela, a filha do mar!

Bernardo Guimarães

As Ondinas






 












Beijam as ondas a deserta praia;
Cai do luar a luz serena e pura;
Cavaleiro na areia reclinado
Sonha em hora de amor e de ventura.

As ondinas, em nívea gaze envoltas,
Deixam do vasto mar o seio enorme;
Tímidas vão, acercam-se do moço,
Olham-se e entre si murmuram: “Dorme!”

Uma – mulher enfim – curiosa palpa
De seu penacho a pluma flutuante;
Outra procura decifrar o mote
Que traz escrito o escudo rutilante.

Esta, risonha, olhos de vivo fogo,
Tira-lhe a espada límpida e lustrosa,
E apoiando-se nela, a contemplá-la
Perde-se toda em êxtase amorosa.

Fita-lhe aquela namorados olhos,
E após girar-lhe em torno embriagada,
Diz: “Que formoso estás, ó flor da guerra,
Quanto te eu dera por te ser amada!”

Uma, tomando a mão ao cavaleiro,
Um beijo imprime-lhe; outra, duvidosa,
Audaz por fim, a boca adormecida
Casa num beijo à boca desejosa.

Faz-se de sonso o jovem; caladinho
Finge do sono o plácido desmaio,
E deixa-se beijar pelas ondinas
Da branca lua ao doce e brando raio.

(Noturno de H.Heine)

Invocação às Ondinas


























Os antigos poetas diziam que as canções das ondinas eram ouvidas no vento oeste e que sua vidas eram consagradas ao embelezamento da Terra material.Esta Invocação deverá ser feita, com os pés descalços, em direção ao Norte e próximo de água corrente ou com uma vasilha de água fresca e cristalina:
“Eu vos saúdo, Ondinas, Que constituís a representação do elemento Água; Conservai a pureza da minha alma, como o o Elemento mais precioso, da minha vida e do meu organismo. Fazei-me pleno de sua criação fecunda, e dai-me sempre intuição de forma nobre e correta. Mestres da Água, eu vos saúdo fraternalmente. Amém.”

Com esta Invocação, pode-se obter amor, intuição, sensibilidade e tudo aquilo que a água pode nos dar.

Sereias





















O céu toca o mar no horizonte com seus fios de cabelo azuis...
De quem são os olhos onde vejo o brilho de um sol,
Um Rei alaranjado de douradas vestes incandescentes ?
Um sonho...
Adormecido na espuma branca das ondas
Encontro a calma e a paz que mereço...
Gotas prateadas que cintilam tocam meu rosto,
Despertando o corpo...
Quem és ?
Passa ao longe a gaivota acinzentada
De encontro à chuva que armazena a nuvem...
As águas levemente se agitam...
Quem és ?
Um peixe colorido salta à minha frente
Pairando no ar por um instante apenas,
Dissolvendo-se no espaço...
" Louco ! ", penso...
Mas se é loucura vagar em pensamentos
Ao ontem de minha existência,
É certo que já não sou são !
Olhos pesam e se fecham para o dia...
Corre adiante a luz esverdeada da esmeralda
Que emite o poder de sua alma...
Esperança...
Os longos cabelos sobre os ombros
E as mãos a cobrirem o peito nu...
O colar parece ter a vida do reino em que vive...
Estou só...
" A insanidade da solidão...", divago...
De que vale o homem se seus dias futuros estão mortos ?
Nem o amor ao Criador pode aplacar a dor
De ter a vida vazia...
Sopra um vento frio em meu deserto interior...
Houve um sentido, um dia...
A forma nas sombras de uma noite passada
Encantou meus sentidos adormecidos...
Era veloz e ia e vinha agilmente sob o fio negro do oceano noturno...
De um impulso, vi sua cauda balouçar no ar
E desfalecer ao leve contato com seu lar...
Sonhador...
Sozinho é o homem que crê em seu coração...
Triste da alma que se faz fraca diante dos sentimentos...
Apaixonei-me...
Do momento que se fez fugaz,
Somente guardo a tela dos segundos em que vi seu rosto...
Desperto com o som do bater da brisa
Nas asas do pássaro perdido...
" Seria um canto ? ", me volta breve a esperança...
Mas meu olhar se perde na amplidão da tarde...
O barco, à deriva, mergulha em espera...
" Não... Estarei sempre sozinho com meus sonhos... "
O sol, ao longe, cumprimenta com uma mesura delicada
A irmã noite que se aproxima...
O homem se recolhe e se larga frouxamente sobre a madeira,
E dorme o sono do envelhecimento de seu ser...
Eternamente...

Alexandre Tavares Sergio

Ondinas


























A beleza parece ser uma característica comum dos espíritos da água. Onde quer que as encontremos representadas na arte e na escultura, são sempre cheias de graça e simetria. Controlando o elemento água - que sempre foi um símbolo feminino - é natural que os espíritos da água sejam com mais freqüência simbolizados como fêmeas.
Existem muitos grupos de Ondinas. Algumas habitam cataratas, onde podem ser vistas entre os vapores; outras têm o seu habitat nos pântanos, charcos e brejos, entretanto outras, ainda, vivem em claros lagos de montanha. Em geral quase todas as ondinas se parecem com seres humanos na forma e tamanho, embora aquelas que habitamos rios e fontes tenham proporções menores. Normalmente elas vivem em cavernas de corais ou nos juncais à margem dos rios ou das praias.
As Ondinas servem e amam sua rainha, Necksa. Elas são antes de tudo seres emocionais, amigáveis para com a vida humana e que gostam de servir à humanidade. Às vezes são representadas cavalgando golfinhos marinhos e outros peixes grandes, e parecem ter um amor especial pelas flores e plantas, às quais servem de maneira devotada e inteligente .

Náiades




















Náiades são ninfas aquáticas com o dom da cura e da profecia e com certos controles sobre a água. Assemelhavam-se às sereias e, com a voz igualmente bela, elas viviam em fontes e nascentes ou até cachoeiras; deixavam beber dessa água, mas não se banhar delas, e puniam os infratores com amnésia, doenças e até com a morte.

As Náiades se dividem em cinco tipos diferentes:

* Crinéias: Náiades que habitam fontes;
* Limneidas (ou Limnátides): Náiades que habitam os lagos;
* Pegéias: Náiades que habitam nascentes;
* Potâmides: Náiades que habitam os rios;
* Eleionomae: Náiades que habitam os pântanos.

Náiades, vós, que os rios habitais




 
















Náiades, vós, que os rios habitais
que os saudosos campos vão regando,
de meus olhos vereis estar manando
outros, que quase aos vossos são iguais.

Dríades, vós, que as setas atirais,
os fugitivos cervos derrubando,
outros olhos vereis que, triunfando,
derrubam corações, que valem mais.

Deixai as aljavas logo, e as águas frias,
e vinde, Ninfas minhas, se quereis
saber como de uns olhos nacem mágoas;

vereis como se passam em vão os dias;
mas não vireis em vão, que cá achareis
nos seus as setas, e nos meus as águas.

Luís Vaz de Camões